top of page

Parte 1- Deserto do Atacama

A porta de entrada para quem visita o Atacama é a cidade de Calama, uma cidadezinha totalmente sem graça mas que tem o aeroporto mais próximo. A cidade chave da região, de onde saem todos os passeios e que tem toda a estrutura de turismo é San Pedro de Atacama, que fica a uns 120 km de distância. O modo mais pratico de fazer o traslado entre as duas cidades é através das empresas de transfer que tem no aeroporto através de vans e micro-ônibus. Não precisa reservar antecipadamente e os preços são mais ou menos tabelados (custou 20.000 pesos ida e volta por pessoa, cerca de 100 reais). Existem várias empresas lá dentro e eles ficam assediando no desembarque, acabei optando pela Licancábur, porém eles atrasaram quase uma hora para me pegarem na volta (vc informa onde vai ficar hospedado), e quase perco o vôo de volta. Fui informado depois que ocorre isso com frequencia, então evitem esta empresa.

San Pedro de Atacama é uma cidade que pode trazer uma má impressão a primeira vista, as ruazinhas são de terra, as construções (restaurantes, bares, agencias de viagem, lojinhas) são pequenas casas revestidas de adobe (uma espécie de barro misturada com palha), mas passado o susto inicial, poucos são os que não se apaixonam pela cidade. Tudo é feito a pé, são poucas ruas e o eixo principal é a Calle Caracoles, e suas transversais. Percebe-se nitidamente que é uma cidade voltada para o turismo, já que é impressionante a quantidade de agencias de viagem.

Não é necessário agendar passeios antecipadamente, mas chegando lá vale a pena pesquisar em diversas agencias. Fechando todos os passeios com uma única agencia os preços ficam bem melhores.

A cidade tem muitos turistas de diversos paises, mas impressionou a grande quantidade de brasileiros.

Mapa da região de S.Pedro de Atacama, com os locais visitados

-Primeiro dia: como chegamos em S.P. Atacama no começo da tarde, nos instalamos no hotel (Hotel Corvatsch, muito bom por sinal, a proprietária é brasileira, fica muito bem localizado e tem comodidades nos quartos como TV e frigobar que somente são disponíveis em hotéis mais caros da região). Eles tem também uma agencia de turismo e um hostel. Neste primeiro dia, batemos perna pela cidade, pesquisamos as agencias e fechamos com a agência do próprio hotel, por um preço muito bom.

Para evitar problemas com a altitude, adotamos a estratégia de irmos nos ambientando, começando por passeios mais próximos à cidade (San Pedro situa-se a aproximadamente 2.100 metros de altitude), deixando os de maior altitude para os últimos dias (chegamos até a mais de 4.300m). Também por estarmos com criança, não fomos a alguns passeios interessantes como o Geiser del Tatyo (sai de madrugada, e em algumas épocas faz frio de até 15 graus negativos), o tour astronômico (um passeio para admirar o belíssimo céu estrelado, tarde da noite) e o Salar de Tara (que fica mais distante e em altitudes que superam os 4.400 metros). Preferimos fazer passeios mais tranquilos, embora nenhum de nós tenha sentido nenhum efeito da altitude.

San Pedro, apesar do visual aparentemente rústico, é uma cidadezinha bem aconchegante, voltada quase que exclusivamente para turismo.

Calle Caracoles, a rua principal da cidade

Igreja de San Pedro, fica numa pracinha gostosa pra passar o tempo

O vulcão Licancabur domina a paisagem, com seus 5.916m

Ótimo companheirinho de viagem...

-Segundo dia: Depois de bater muita perna pela cidade (que dá pra fazer em pouco tempo, pq é muito pequena), pesquisamos, negociamos e fechamos todo o pacote de passeios com a própria agência do hotel, com um bom desconto. Pagamos 160.000 pesos chilenos (uns 800 reais ou 240 dólares) para o transfer + guia para 3 pessoas, para os passeios para 3 dias, descritos adiante. Ah, as entradas sempre são cobradas a parte (preços descritos adiante) e é necessário levar dinheiro (pesos) em espécie, na maioria dos locais não aceitam cartões.

Marcamos o primeiro passeio para o Vale da Lua porque é um dos mais próximos à cidade, praticamente na mesma altitude e é um passeio imperdível, um cartão de visitas do Atacama. A entrada é de 3.000 pesos/pessoa.

O passeio é muito tranquilo para crianças porque não é preciso caminhar quase nada, exceto para ir num mirante (mas que quem não estiver muito disposto, pode esperar no caminho sem problema algum). O cenário é lindo e surreal, rochas sedimentares de cor avermelhada caprichosamente esculpidas pela ação do vento. Na minha visão geológica, acho que o local deveria ser chamado Vale de Marte, e não da Lua, por causa da cor avermelhada das rochas. Por situar-se dentro do enorme Salar de Atacama, em alguns trechos a paisagem é manchada de branco (por eflorescências de sal).

Meu pequeno tomando gosto pela geologia...

O caminho até o mirante...

A vista lá do alto compensa o esforço da pequena subida.

O passeio termina no final do dia, contemplando o belo por do sol junto à Pedra do Coiote (acho que o nome é uma alusão ao desenho do Papa-léguas, onde sempre tinha uma pedra que caia sobre o pobre coiote):

-Terceiro dia: Para este dia, reservamos um passeio muito light: as Termas de Puritama (saída as 14:00hs e retorno no final da tarde). É um riacho naturalmente formado por águas aquecidas (por atividade vulcânica) onde se formam algumas piscinas boas pra tomar banho. Situa-se a cerca de 30km de San Pedro por uma estrada de terra. A van nos deixa no estacionamento e é preciso descer uma pequena ladeira (cerca de 400m) para chegar ao local. A entrada custou 9.000 pesos/pessoa e, a exemplo da maioria dos outros locais, menores de 5 anos não pagam. O local é bem organizado, tem lanchonete, banheiros e vestiários. É necessário levar sua própria toalha, e recomendável levar chinelos para se deslocar de uma piscina a outra. Normalmente a piscina mais distante do local de chegada é a menos muvucada, então vale a pena andar um pouquinho (são realmente muito próximas umas das outras). Ah, a água é uma delicia, cristalina e quentinha, mas como venta muito, é bom ter a toalha sempre à máo, porque a sensação de frio na hora de sair da água é de agulhas na pele... Assim como nos demais passeios do Atacama é super recomendável levar sempre um casaco, porque sempre faz frio no final do dia, de preferência um corta-vento.

É preciso descer esta pequena ladeira até chegar às piscinas

Os acessos para todas as piscinas é através desta passarela de madeira

Água quentinha e cristalina...

O passeio é interessante, não chega a encher os olhos, mas como é de fácil acesso, é muito bom para um dia de descanso e relaxamento. O trajeto até Puritama passa por cenários muito bonitos, com o vulcão Licancabur dominando a pasisagem.

-Quarto dia: Voltamos novamente para dentro do imenso Salar de Atacama, desta vez para um local chamado Laguna Cejar. Saída as 16:00hs e retorno as 20:00hs. O ingresso custa 15.000 pesos/pessoa e normalmente as agências oferecem um lanche no final da tarde, com direito a petiscos e um pisco sour. É um passeio bem tranquilo, altitudes moderadas (2.300m) e para os menos adeptos a esforços físicos, é uma ótima opção porque é zero de caminhada. Uma ótima opção também para aquele dia que estiver mais cansado.

A Laguna Cejar propriamente dita não é muito grande, mas o cenário é muito fotogênico e é possível tomar banho (o fato interessante é que é um dos locais com maior salinidade do mundo, maior até que o Mar Morto, então o corpo flutua naturalmente). Apesar de ter uma boa estrutura (banheiros com banho doce e vestiários), não me aventurei ao mergulho porque me falaram que, por mais que vc se lave, fica sempre aquela sensação de sal grudado ao corpo depois. Mas o passeio é muito válido, mesmo que seja só para admirar as belissimas paisagens.

Sal se depositando nas margens da Laguna Cejar

Caminho para o acesso à Laguna Cejar

Neste mesmo passeio, visitamos também os Ojos de Cejar, que são duas depressóes preenchidas por água (apesar de serem pequenas, estima-se que atinjam cerca de 80 metros de profundidade). O banho também é permitido.

Ojos de Cejar

O passeio termina na Laguna Tebenquiche, ponto de parada para o lanche e o belíssimo por do sol..

Laguna Tebenquiche

O belissimo por do sol na Laguna Tebenquiche

-Quinto dia: Lagunas Altiplânicas- Reservamos nosso último dia no Atacama para o passeio que, apesar de ser o mais cansativo (durou o dia todo e chegamos a altitudes maiores que 4.300m), foi o mais marcante e bonito. Tivemos que acordar cedo porque a van nos pegaria as 7:00hs, estava muito frio (cerca de 5 graus) e ainda escuro (em Maio, só amanhece lá pelas 9:00hs). O café da manhã (que faz parte do pacote) é servido na primeira parada do roteiro. Como é relativamente distante (cerca de 130km de San Pedro), dá para dormir um bocado no caminho.

O roteiro cruza boa parte do belíssimo Salar de Atacama e atinge as cordilheiras que são os limites do Salar.

A primeira parada é na Laguna Chaxa, dentro do Parque dos Flamingos... como o próprio nome sugere, a grande atração são os flamingos rosa que vivem lá. A entrada custou 2.500 pesos/pessoa. Existe infra-estrutura (banheiros e local onde é servido o café da manhã). Vá bem agasalhado porque como é a primeira parada, é muito cedo ainda e costuma fazer muito frio.

Flamingos rosa na Laguna Chaxa

Em seguida, é feita uma pequena parada em um povoado chamado Socaire, que foi fundada pelos atacamenhos, povos indígenas que habitavam a região (civilização pré-hispânica, ou seja, antes da colonização espanhola da região).

Como é uma região com recursos escassos, materiais disponíveis são utilizados tanto na igreja como nas casas: pedras vulcânicas para as paredes e cobertura de palha.

Igreja do povoado Socaire

Interior da igreja de Socaire

O trajeto das lagunas altiplânicas passa por cenários impressionantes, rudes mas belíssimos. Apesar de ser muito seco, com ausência de árvores de grande porte, a vegetação rasteira de cor amarelada dá um charme especial à paisagem. É comum encontrarmos animais, como ovelhas, raposas ou vicunhas (uma espécie parecida com as lhamas, mas de menor porte).

A imensa planície do Salar de Atacama, ao fundo as cordilheiras que são seu limite

Vicunhas, animais típicos da região

A próxima parada foi nas belíssimas Lagunas Miscanti e Miniquez, duas lagoas de águas escuras que variam do azul turquesa ao verde esmeralda a depender da luz, emolduradas por margens esbranquiçadas por depósitos de sal. Não bastasse toda essa beleza, o vulcão Lascar, com seus 5600 metros de altura, marca a paisagem. As lagunas são formadas principalmente por água de degelo das montanhas próximas, já que chove muito pouco na região. Situam-se nas cordilheiras, já fora dos limites do salar. em altitude de cerca de 4.300m.

Logo na chegada, é cobrado o ingresso (3.000 pesos/pessoa) e existem banheiros e depois o resto do percurso até as lagunas pode ser feito a pé (vale a pena, dá pra tirar ótimas fotos), ou na própria van.

Laguna Miscanti em primeiro plano e a pequena Laguna Miniques ao fundo

A cor esbranquiçada nas margens são devido aos depósitos de sal.

A cor azul turquesa da Laguna Miniques

No caminho de volta para San Pedro, paramos num ponto onde passa o Trópico de Capricórnio. Apesar de estar exatamente na mesma latitude de minha terra natal (São Paulo), a enorme diferença de clima deve-se principalmente devido à grande diferença de altitude entre as duas cidades.

A última parada foi num povoado chamado Toconao, para esticar as pernas na simpática pracinha com sua igreja.

-Algumas considerações:

-O Deserto do Atacama entrou em nosso roteiro como destino secundário, já que o foco principal seria a região da Patagônia, mas depois que conhecemos, a minha opinião foi que este foi o ponto alto da viagem. É um cenário fantástico, com paisagens que não são só bonitas, são totalmente diferentes de qualquer destino de um turismo mais "convencional"... difícil não se encantar pela região.

-A quantidade de dias para conhecer bem a região é de cerca de 4 dias livres (desconsiderando o dia da chegada e partida). Se for conhecer o Salar de Uyuni, que fica na Bolívia mas é perto do Atacama, reserve mais uns 3 dias. Como estávamos com criança pequena, fizemos um roteiro bem light, para evitarmos ao máximo qualquer desgaste físico, então nos restringimos a apenas um passeio por dia (a maioria saindo de tarde). Para aqueles que vão sem crianças ou com crianças maiores, dá para fazer tranquilamente dois passeios por dia, então dá para conhecer muito mais atrações.

É possível fazer os passeios por conta própria (carro alugado), mas não é muito recomendável porque tem alguns passeios mais distantes e que passam por trechos não sinalizados e fora de estradas. Lembrem-se que é um deserto, e passamos por longos trechos sem encontrar pessoas ou casas.

-Estavamos meio preocupados em levar a criança para um destino aparentemente inapropriado (deserto, com variações grandes de temperatura, clima seco e grandes altitudes), porém o garotão encarou tudo sem demonstrar nenhum sinal de cansaço ou desgaste. A indisposição com altitude é meio imprevisível, varia muito de pessoa para pessoa e independe do preparo físico (algo parecido com enjôo no mar ou coisa parecida). Mas convém ficar atento aos eventuais sintomas, como cansaço incomum, indisposição ou dores de cabeça. Se a criança (ou nós mesmos) continuar ativa, é sinal que está tudo bem.

-Respeite os limites da criança, a hora que ela demonstrar cansaço, dê uma paradinha, descanse, invente brincadeiras para motivá-la. Normalmente as crianças conseguem se motivar com coisas simples (Henrique adorava ficar brincando com montinhos de areia e pedras, fazendo "construções"...

-Leve sempre lanchinhos, biscoitos, chocolates e água nas mochilas (nos abasteciamos diariamente no mercadinho local, muito mais barato).

-Não esqueça de levar sempre alguns pesos chilenos (dá para sacar nos caixas automáticos que tem na Calle Caracoles).

-Itens de vestiário artesanais como agasalhos, gorros e cachecóis de lã são vendidos por lá por preços bons, porém um item senti falta foi uma calça de tactel que é pau para toda obra... só encontrei lá em uma loja mais famosa e por preço muito alto, então é bom levar daqui.

POSTS RECENTES:
PROCURE POR TAGS:
bottom of page